O "baixo" da barca do inferno
O "baixo" da barca do inferno...
— Ô da barca!!!
O anjo se voltou para a voz que lhe chamava, pouco antes de desancorar o barco com uma só alma.
— Quem a mim chama? – Indagou.
Com uma mala cheia de dinheiro, o afoito homem de terno veio correndo ao seu encontro;
— Quem és?
Ultrajado, o homem girou nos calcanhares e bradou com seu sotaque de jagunço, num atropelo da norma culta:
— Eu sô députado!
— Ok, devo já partir! Como lhe ajudar?
— Pr’onde é que essa coisa vai? – Quis saber, um tanto surpreso pela aparente fragilidade da pequena e estreita barca de marfim.
— Pra além-mar!
O político meneou a cabeça, o outro só podia estar louco:
— Escuta, ô portuga, se você quiser eu te coloco num esquema lucrativo. Tô aqui com essa mala cheia de prop... projetchos e pensa bem, posso te emprestar uma graninha via BNDES, mas tem que reservar 30%, aumentar teu barco e...
— Vou dispensar.
— É, já vi que é bem bur... Bah, esquece. Diz ai, onde é que eu consigo encontrar a comitiva? Que diabos estou fazendo aqui?
O anjo o olhou e não hesitou, apontou a fila gigantesca da embarcação metros à frente: um navio colossal cheio de figurões. O barulho era tão alto quanto o navio infernal.
— Estão a te esperar.
— Perfeito! – Exclamou e saiu sem agradecer.
Naquele dia, João Larápio se dirigia à barca do inferno, seu corpo seria encontrado pela empregada, infartado diante da possibilidade de ser visitado pelo japonês da federal. Da mala não pôde levar um só real...